CRISTO, ARQUÉTIPO DA SÍNTESE E DO SELF
“ Porque motivo – perguntará o
leitor – falo aqui de Cristo e de sua parte contrária? Falamos necessariamente
de Cristo porque Ele é o mito ainda vivo de nossa civilização. É o herói de
nossa cultura, o qual, sem detrimento de sua existência histórica, encarna o
mito do homem primordial, do Adão mítico. É Ele quem ocupa o centro da mandala
cristão; é o senhor do Tetramorfo, isto é, dos símbolos dos quatro Evangelistas
que significam as quatro colunas de seu templo. Ele está dentro de nós e nós
estamos Nele. Seu reino é a pérola preciosa, o tesouro escondido no campo, o
pequeno grão de mostarda que se transforma na grande árvore; é a Cidade
celeste. Do mesmo modo que Cristo, assim também o seu reino está dentro de nós.
Acho que estas poucas referencias universalmente conhecidas são suficientes
para caracterizar a posição psicológica do símbolo de Cristo. Cristo elucida o
arquétipo do Si-mesmo”.
Cal Gustav Jung, em AION, estudos
sobre o simbolismo do si mesmo, parag 69.
“A síntese não é uma coisa
estática, mas algo vivo, um movimento. Sem cessar, nós temos que fazer a união
entre o superior e o inferior, entre masculino e feminino, através dos
conflitos, através das tristezas, a fim de vivermos estas bodas interiores.
Para os antigos Terapeutas, Jesus
não era somente um personagem histórico. Ele era também um arquétipo. O
arquétipo que faz em nós, a Síntese não apenas do masculino e feminino, mas
também a síntese do divino com o humano”.
“ Daí vem a necessidade de
encontrar o caminho do meio. Se o Cristo é somente Deus, ele não me interessa,
porque ele não sabe o que é o sofrimento humano, ele não sabe o que é ser
traído por seus amigos, ele não sabe o que é a morte. Se por outro lado, Cristo
é simplesmente um ser humano, ele também não me interessa porque são o
sofrimento e a morte que terão a ultima palavra. Se ele não ressuscitou, não
manifestou essa presença do divino nele, poderá ter sido um belo sábio, um
homem maravilhoso, mas sempre como um homem mortal. É preciso unir o humano ao
divino, a realidade do sofrimento e da morte com a realidade da ressurreição. E
assim a gente encontra o Cristo no caminho do meio”
Jean-Yves Leloup, em “ Caminhos
da Realização”.
“ O rei não é o Self, mas a
manifestação simbólica desse arquétipo. Isso é, o rei de nossa civilização é
Cristo, ele é o símbolo do Self, ele é o aspecto específico do Self que domina
a nossa civilização, o Rei dos Reis, o conteúdo dominante. Eu diria que Buda é
o aspecto formulado do simbolismo do Self
nas civilizações budistas. Assim, o rei não é o arquétipo, mas o símbolo
do Self que tornou a representação central dominante numa civilização”
Marie-Louise von Fraz, em " A sombra e o mal nos contos de fadas".
“ Que outro líder que, apenas com
12 colaboradores, redefiniu toda a história da humanidade, e exemplo do que Cristo
fez há dois milênios? Há um tratado de Clemente de Alexandria sobre o Cristo
pedagogo. E há um ícone do século XIV do Cristo Psychosostes, representando-o
como médico e psicólogo, pleno de sabedoria compassiva.
Cristo foi agente de cura do
corpo físico, ao limpar a pele de leprosos e abrir os olhos de cegos. De cura
psíquica, pela profunda e eficaz psicologia do perdão, pelas parábolas sábias
que resistem aos séculos e ainda mantém o frescor original. De cura noética, ao
ensinar a terapia da benção e da oração. E, finalmente, agente de conexão com a
essência da vida, colocando-nos em contato com aquele que, na intimidade, ele
chamava de Paizinho”.
Roberto Crema, em “Normose- a
patologia da normalidade”.
“ O símbolo de Cristo” é da maior
importância para a psicologia, porquanto constitui, ao lado da figura de Buda,
talvez o símbolo mais desenvolvido e diferenciado do Si-mesmo. Isso pode ser
avaliado pela amplitude e pelo conteúdo dos predicados atribuídos ao Cristo,
que correspondem a fenomenologia psicológica da Si-mesmo de um modo incomum,
apesar de não incluir todos os aspectos deste arquétipo”.
Carl Gustav Jung
Em “Espiritualidade e
Transcendência”, Capítulo III, Psicologia e Religião, livro editado por
Brigitte Dorst.
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