Aquele que sabe o segredo do som, sabe o mistério
de todo o universo." - Hazrat Inayat Khan
Música das Esferas
Alguns astrólogos antigos entenderam verbum como som. A base para essa
interpretação estaria na sua argumentação de que, na tradição que defendiam, a
criação deveria ser vista com a cristalização do canto do Criador. Pitágoras
desenvolveu sua teoria a partir deste entendimento: a estrutura da música
explicaria a estrutura do universo. Era através da música que da melhor maneira
se poderia entrar no conhecimento do cosmos.
Essa relação entre música e matemática estabelecida pela via astrológica foi
revelada a Pitágoras quando, passando diante de uma oficina de ferreiro, ouviu
dois martelos batendo numa bigorna. Soavam com a diferença de uma oitava um do
outro. Oitava, em música, é um intervalo que abrange oito notas da escala
diatônica (que procede na sucessão natural dos tons e semitons). Oitava é sinal
que indica que o trecho melódico deve ser executado oitavado, acima ou abaixo.
Os outros dois soavam com a diferença de uma quarta (intervalo que abrange
quatro notas de uma escala diatônica) e outros dois soavam com a diferença de
uma quinta (intervalo que abrange cinco notas de uma escala diatônica,
considerado a consonância perfeita). Pitágoras constatou que os que soavam em
oitava estavam em relação de 1 para 2, os que soavam em quinta, numa relação de
2 para 3 e os que soavam em quarta, numa relação de 2 para 4.
A teoria pitagórica desenvolvida incorporou a idéia de que o Sol, a Lua e os
demais astros giravam em torno da Terra em círculos concêntricos. As rápidas
revoluções dos corpos produziam no ar um zumbido musical. Cada planeta emitia
uma nota diferente que dependia da relação de sua órbita, do mesmo modo que a
uma nota da lira dependia do comprimento da corda. Muito se discutiu: poesia,
ciência, loucura? Esta teoria pitagórica influenciou muitos estudiosos que se
voltaram para o estudo dos astros. O pensamento de Platão adotou o entendimento
de que a alma do homem e os astros tinham o mesmo movimento imortal.
Plotino
foi outro que recebeu os ensinamentos de Pitágoras através do platonismo.
Séculos e séculos mais tarde, a experiência narrada por Pitágoras foi repetida
(séc. XVII), o que permitiu associar os intervalos musicais aos aspectos
astrológicos. Considerando-se o céu como um círculo imenso, o arco que separa
dois astros tomou o nome de aspecto. Quando, por exemplo, dois planetas estão situados
no mesmo grau do Zodíaco, seu aspecto é chamado de conjunção. Não há intervalo
entre eles. Este aspecto, em música, recebeu o nome de uníssono musical, isto
é, correspondia à emissão simultânea da mesma nota por dois cantores ou por
dois instrumentos. Quando dois astros estão a 180° um do outro, temos a
oposição. Os músicos comparam a oposição cósmica à oitava (relação de 1 para
2). Se essa distância corresponder a 120° (um terço do círculo ou Zodíaco),
temos o trino, relacionado com a quinta (relação 2 para 3). Estes intervalos
estão na base de todo o sistema de afinação dos instrumentos musicais.
Num famoso texto do século XVII, "O Livro das Consonâncias", seu
autor, o Padre Marsenne, afirmou que os três números mencionados representavam,
respectivamente, o Pai (unidade), o Filho (binário) e o Espírito Santo
(ternário).
Muitos astrólogos antigos chamavam indiscriminadamente a conjunção
de uníssono e a oposição de oitava. Os músicos falavam da facilidade de um
trino ou da dificuldade para um quadrado. O uníssono era o mais poderoso dos
acordes. Comparava-se o amor ao uníssono, com justa razão.
As sete grandes consonâncias (séc.XVII) estavam relacionadas com os sete
planetas: Oitava = Lua ou Selene; Sexta maior = Mercúrio ou Hermes; Sexta menor
= Vênus ou Afrodite; Quinta = Sol ou Hélio; Quarta = Marte ou Ares; Terça maior
= Júpiter ou Zeus; Terça Menor = Saturno ou Cronos.
Ainda segundo as correspondências do século XVII (Harmonie Universelle, do
Pe.Marsenne), teríamos: o Fogo correspondendo à voz de Soprano, ao Vermelho
(cor), ao Bastão (Tarô), ao Ouro (Metal), ao Oriente (ponto cardeal), ao
Colérico (temperamento). Ao Ar, na mesma ordem: Contralto, Azul, Espada, Prata,
Sul, Sanguíneo. À Água, na mesma ordem: Tenor, Branco, Taça, Estanho, Norte, Fleugmático.
À Terra, na mesma ordem: Baixo, Negro, Dinheiro, Chumbo, Ocidente, Melancólico.
O número doze, de tanta riqueza simbólica, também inspirou os artistas-músicos
que se valeram da Astrologia para estabelecer suas analogias. O doze, como
sabemos, é o número das divisões espaço-temporais, produto de quatro (pontos
cardeais) pelos três planos do mundo ou três dinâmicas, sendo usado para
dividir o céu em doze setores em todas as antigas civilizações. É o número doze
o símbolo do próprio universo no seu desenvolvimento cíclico, o número da
realização, símbolo do devenir humano que continuamente se resolve.
Roger Cotte - Fonte: Blog do Cid Marcus
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