A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS
“Quando aconselho meu paciente:
Preste atenção em seus sonhos”, quero dizer o seguinte: “Volte ao ser mais subjetivo, à fonte de sua
existência, aquele lado onde você faz história do mundo sem o perceber. Sua
dificuldade aparentemente insolúvel deve, evidentemente, ser insolúvel para que
você não continue procurando remédios que sabemos de antemão serem ineficazes.
Os sonhos são expressão de seu ser subjetivo e, por isso, podem
mostrar-lhe atitude errônea que o levou
para esse beco sem saída”.
Realmente os sonhos são
imparciais, não sujeitos ao arbítrio da consciência, produtos espontâneos da
psique inconsciente. São pura natureza, e, portanto, de uma verdade genuína e
natural, são mais próprios do que qualquer coisa a devolver-nos uma atitude
condizente coma natureza humana quando nossa consciência se afastou por demais de
seus fundamentos e atolou numa situação impossível.
Ocupar-se com os sonhos é uma
espécie de tomada de consciência de si.
Não é a consciência do eu que se dá conta de si mesmo, mas ocupa-se com o dado objetivo do sonho como
um comunicado ou mensagem da psique inconsciente e oni-unitiva da humanidade. A
gente se dá conta não do eu, mas sim daquele si-mesmo estranho que nos é
próprio, que é nossa raiz da qual brotou, em dado momento, o eu. Ele nos é
estranho porque dele nos alheamos através do extravio da consciência.
... Considerando a infinda
variabilidade dos sonhos, é difícil conceber que haja um método, ou seja, um
caminho tecnicamente organizado que leve a resultados infalíveis. E é bom que
não haja método válido, pois nesse caso o sentido do sonho já seria limitado de
antemão e perderia precisamente aquela virtude que o torna tão útil aos
objetivos psicológicos, isto, sua capacidade de oferecer um novo ponto de
vista.
... A arte de saber interpretar
sonhos não se aprende nos livros. Métodos e regras são bons quando a gente
consegue se virar também sem eles. Um verdadeiro saber só o tem quem sabe, e
bom senso só tem o sensato. Quem não conhece a si mesmo não pode conhecer o
outro. E em cada um de nós existe um outro que não nós não conhecemos. Fala-nos
pelo sonho e nos diz quão diferente ele nos
vê do que nós nos vemos. Se nos
encontrarmos, pois, em situação de difícil solução, o outro estranho pode
acender uma luz que muda radicalmente nossa atitude, exatamente aquela atitude
que nos levou à situação difícil.”
Carl Gustav Jung, em “
Civilização em Transição”, capítulo VII,
editora Vozes.
Foto: escritório de Jung.
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