LAPIS, A PEDRA FILOSOFAL


 “ Quando era escolar, Jung gostava de brincar ao ar livre, Ao lado dos muros do jardim da casa de sues pais havia um declive em que estava incrustada uma pedra, “ a minha pedra” como ele a chamava.

“ Era freqüente, quando estava sozinho, que eu me sentasse nessa pedra e começasse uma brincadeira imaginária mais ou menos assim: “ Estou em cima dessa pedra e ela está embaixo de mim. Mas e pedra poderia também podia dizer “eu” e pensar: “estou aqui nesse declive, e eles está sentado em cima de mim” Vinha então a questão: “ Eu é que estou sentado em cima da pedra ou eu sou a pedra sobre a qual ele está sentado?” essa pergunta sempre me deixou perplexo e eu me levantava, a imaginar quem era o que naquele momento”.          

... Quando Jung, que era um pedreiro habilidoso, trabalhava num anexo de sua casa de pedra no lago superior, um operário levou-lhe uma pedra angular cúbica que fora medida incorretamente e não podia ser usada na construção – “ a pedra rejeitada pelos construtores”. Ele percebeu de imediato que aquela era a pedra que ele deveria transformar numa lembrança da lapis. Na parte anterior, ele gravou um círculo e, nele, um kabir, o Telésforo ou Asclépio, com uma lanterna na mão; em torno dele, gravou em grego a inscrição:

“ O tempo é uma criança – brincando como uma criança-  sobre um tabuleiro de xadrez, o reino da criança. Eis Telésforo, que vaga pelas regiões sombrias desse cosmos e que brilha qual estrela erguendo-se das profundezas. Indica o caminho dos porões do sol e da terra dos sonhos”

E, nos outros dois lados visíveis da pedra, Jung gravou dizeres alquímicos a respeito da pedra filosofal. Um deles diz o seguinte:

“ Sou uma órfã, sozinha; mesmo assim, estou em toda parte. Sou uma, mas oposta e mim mesma. Sou ao mesmo tempo jovem e velha. Não conheci pai nem mãe, porque devem ter me arrancado das profundezas como um peixe, ou caí do céu, como uma pedra branca. Vagueio pelas florestas e montanhas, mas estou escondida no mais recôndito do homem. Para cada um sou mortal e, no entanto, a sucessão dos tempos não me atinge”.

Nessa pedra, Jung erigiu um memorial para sua torre no lago superior e para seu real ocupante, o Self, bem como para aquela vida misteriosa que ele deu o nome de inconsciente, de que de fato tão pouco se compreendeu até agora.

Texto de Marie-Louise von Franz, em C.G.Jung- seu mito em nossa época, Editora Cultrix.

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