MURRAY STEIN E A UMBRA MUNDI (1)
Entrevista com Murray Stein, Ph.D pelo
Rev. Dr. Robert S Henderson)
RH:
Entramos em um momento estranho. Covid 19 virou o mundo de cabeça para baixo.
Nas muitas entrevistas que você e eu fizemos, sempre tivemos muito a dizer.
Existe algo nessa pandemia que nos deixou sem palavras?
MS:
Sim, deixou quase todo mundo sem palavras. É um desenvolvimento tão
surpreendente na comunidade global que “cisne negro” quase não é suficiente
para nomeá-lo. Mas mesmo se ficarmos sem palavras por um momento, podemos
pensar nisso. Foi chamado de "pandemia", o que significa que afeta
todos no planeta.
O senso de “pan” (“tudo”,
em geral!) É forte e ressalta a conexão de todos. Geralmente pensamos na “anima
mundi” como uma presença amorosa, como uma mãe, que conecta as pessoas, mas,
neste caso, é a sombra que está nos conectando. Esta é uma grande surpresa!
Ainda assim, a pandemia
está trazendo um senso de comunidade a muitas pessoas, e elas estão sentindo,
além da ansiedade, um senso de reciprocidade e responsabilidade uma pela outra.
O que faço afeta o meu vizinho e, portanto, devemos nos tornar mais conscientes
de nossas decisões e ações cotidianas. Todos os indivíduos na terra estão sendo
chamados à responsabilidade.
RH:
Se você acha que o “cisne negro” não é suficiente, outra imagem veio até você?
MS: A imagem que me vem à
mente é uma Umbra Mundi, uma “sombra
do mundo” pairando sobre nós e infectando nossas vidas psíquicas. Eu vejo essa
sombra se espalhando pelo globo como um eclipse solar. O termo alquímico para
isso é nigredo. O sol está coberto pela sombra da morte. É o estágio familiar
que significa o início de uma transformação significativa. Nos pedem para
caminhar pelo vale da sombra da morte. É bíblico. A questão é: seremos capazes
de usar essa experiência para a individuação? Ou será como um pesadelo da noite
que, quando acordamos, ficamos felizes em nos libertar?
RH:
Como é o primeiro passo dessa caminhada?
MS:
Normalmente, o primeiro passo significa entrar completamente em um estado de
"confusão", com a intenção de explorar a pergunta "onde
estou?" O indivíduo encontra-se em algo como um bosque escuro como Dante
no início de sua jornada para o Inferno. Eles estão procurando um caminho de
volta ou de saída, algo sólido, algo em que possam confiar para lhes dar luz,
esperança e senso de direção. Há ansiedade aqui neste lugar escuro, às vezes à
beira do pânico, e muitas vezes há uma sensação de catástrofe iminente se o
caminho de volta não for encontrado, e rapidamente. Essa é a nossa hora.
As pessoas estão se
perguntando: este é o fim do mundo como o conhecemos? Este é o Apocalipse?
Ninguém sabe a resposta. Estamos todos no escuro, tateando, procurando. Mas o
importante é dar uma olhada nesse espaço. Não há respostas "lá fora".
Ninguém conhece o futuro. Talvez um guia apareça, alguém como Virgílio ou
Philemon.
Também podemos perguntar: o que o inconsciente diz? qual é a sua resposta a esta situação de crise? Eu já vi vários sonhos que indicam "morte". Morte significa o fim da história, como foi contada. Então, entramos no vale da sombra da morte e prosseguimos a partir daí. Não há outra saída.
Também podemos perguntar: o que o inconsciente diz? qual é a sua resposta a esta situação de crise? Eu já vi vários sonhos que indicam "morte". Morte significa o fim da história, como foi contada. Então, entramos no vale da sombra da morte e prosseguimos a partir daí. Não há outra saída.
RH:
Somos convidados a ficar em casa, o que pode ser um grande desafio para muitas
pessoas, especialmente com tantos cancelamentos de trabalho, escola, shows,
eventos esportivos. O que devemos fazer com tanto tempo em casa?
MS:
Geralmente, as pessoas se queixam de não ter tempo suficiente para gravar seus
sonhos, realizar imaginação ativa, ler o Livro Vermelho de Jung e assim por
diante. Agora, com tempo à nossa disposição, por que não aproveitar bem a
oportunidade? Essa crise passará mais cedo ou mais tarde. 18 meses é o palpite
de fora agora, até que uma vacina possa ser desenvolvida e distribuída. Então,
o ritmo da atividade será desacelerado rapidamente e retornará à alta
velocidade. Coloque esse período de tempo em perspectiva e use-o de forma
criativa.
O desafio será aprender com
essa experiência e levar adiante a aprendizagem posteriormente. O que podemos
extrair desse período de desaceleração e isolamento forçado que nos ajudará a
encontrar um ritmo e um equilíbrio mais sábios na vida, quando as portas forem
abertas e pudermos andar e correr livremente novamente? Sugiro que consideremos
este momento um momento precioso em nossas vidas para olhar para dentro, para
introversão e para praticar a centroversão, a circunvenção consciente do eu
maior.
Comentários