NISE DE SILVEIRA, UMA AQUARIANA E TANTO
Nise e Jung, em Zurich, 1957
Por Tereza Kawall
No Brasil, a renomada psiquiatra Nise
da Silveira ( 1905-1999) é considerada como a introdutora do estudo sistemático
da Psicologia Analítica no Brasil. Nise nasceu em Alagoas e fez a sua formação
na Faculdade de Medicina da Bahia, entre 1926 e 1931; importante dizer que era
a única mulher dentre os 157 homens da sua turma. Em 1944 iniciou seu trabalho
no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
Nise discordava dos tratamentos convencionais aos quais eram submetidos os pacientes
esquizofrênicos, que na época eram os choques elétricos, os comas insulínicos e
o uso de psicotrópicos em larga escala. Criticava o ambiente dos hospitais que
eram muito frios e impessoais.
Em função dessa radical discordância com o
trabalho nas enfermarias, Nise foi transferida para o trabalho com terapias
ocupacionais, até então desprezadas pelos médicos. Assim, ela fundou a “Seção
Terapêutica Ocupacional”, que dirigiu desde 1946 até 1974. Ali se praticavam
pintura, modelagem e trabalhos artesanais.
Essas atividades tinham um valor terapêutico inestimável, uma
vez que cumpriam uma importante função,
no sentido de despotencializar o poder das imagens aterrorizantes presentes nas
visões e delírios nos pacientes esquizofrênicos.
Em 1952 fundou o Museu das Imagens do
Inconsciente, no Rio de Janeiro, centro de pesquisas destinado à preservação
dos trabalhos produzidos na instituição. Em 1956 desenvolveu outro projeto, a
Casa das Palmeiras, clínica destinada à reabilitação de egressos de
instituições psiquiátricas. Nise foi pioneira também na pesquisa da importância
das relações afetivas entre os pacientes e seus animais, os quais ela chamava
de co-terapeutas. Segundo ela, os animais representavam um ponto de referencia
afetiva estável na vida dos internos. Nise recebeu inúmeras condecorações e
prêmios por seu extraordinário trabalho na área da psiquiatria, e seu
pioneirismo se tornou fonte de inspiração para a criação de outras instituições
terapêuticas no Brasil e no exterior.
No ano de 1954 iniciou uma profícua
troca de correspondência com Jung, pois já estava em contato com a sua teoria,
e investigava com grande interesse os desenhos em formas circulares feitos
pelos seus pacientes relacionando-os às mandalas estudadas com grande interesse
por Jung. Segundo ele, mandalas desenhadas de forma espontânea evidenciavam uma
tentativa de cura, cumprindo uma função de reorganização em casos de forte
dissociação ou desorientação psíquica.
A correspondência entre eles se
intensificou e por conta disso Nise foi convidada por ele para participar, com
parte de seu acervo do Museu das Imagens do Inconsciente, do II Congresso
Internacional de Psiquiatria, em 1957, em Zurique. Jung fez questão de abrir a
mostra brasileira que ocupava cinco salas, e teceu comentários relevantes sobre
as obras ali expostas. Essa exposição – A Esquizofrenia em imagens - acabou por
abrir novos caminhos e orientações em sua atividade profissional.
Nise publicou
nos anos 60 uma obra, *“Jung, vida e obra”, que traz os principais conceitos da
escola junguiana. Escreveu também “* Imagens do Inconsciente” e *“Emoção de
lidar”, sobre os gatos, sua grande paixão. Sem sombra de dúvida, Nise foi uma
das grandes divulgadoras da obra de Jung no Brasil.
Nise nasceu em 15 de fevereiro de 1905 e faleceu em 1999.
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