SOBRE NEUROSE


 NEUROSE

O mal do nosso tempo e a neurose são o anti-regozijo. O neurótico não se compraz com nada, a começar consigo próprio – que é a fonte do “sumo de mim”. E nem com o outro. Então, o que é a neurose? A neurose é uma deformação do estado das coisas, é um funcionamento às avessas. Quer dizer: eu como para me satisfazer. Sou neurótico? Como e sinto culpa. A neurose altera o dado e seu signo; é um funcionamento perverso, porque fica tudo pelo avesso. Os males são bem conhecidos: culpa, inferioridade, frustração, carência, ansiedade, incompetência, irritação, ineficiência, etc. Se estou neurótico, estou funcionando contra a corrente, contra o fluxo e contra o sentido das coisas. Quer dizer, é algo que tem que ser trabalhado para ser alterado. Jung foi breve: “ O neurótico é um desadaptado de si mesmo”. É um anti-ser, de viés, a contrapelo.

Acredito que o ser humano é capaz de serenidade, regozijo, amorosidade, solidariedade, compaixão, criatividade, ética, reparação, e mais valores que se queira acrescentar à lista. Se não acreditasse nisso, não faria sentido exercer o ofício que escolhi.

Não sei qual é o telos, a finalidade da natureza. Se pensarmos darwinianamente, lembraremos que a vida começou por acaso, e que um protozoário acabou de desdobrando até cobrir de vida um planeta. Mas não sei qual é a finalidade deste processo. Sei que transcorre sem cessar há mais de dois bilhões de anos. Para onde vai a nave, se a humanidade tende a uma melhora, a uma evolução... eu não sei, está além de mim, não posso falar nisso.

                                                                                                        Agora, nós, que somos macacos um pouco mais aptos, com nossa capacidade de representar e de ter idéias, combina com nossa vida termos um telos, uma meta, uma utopia que seja. E minha proposta é simplesmente poder dizer: que nos tornemos seres humanos melhores. É uma escolha. Para mim está bom. Fico muito inquieto ao ouvir “ Ah, minha meta é aprender a lidar com frustração”. 
Para mim é pouco. Agora, se você escolheu isso para a sua vida, é assim que você viverá. Se eu disser que a minha imagem de vida é que esta se regozija consigo própria, e que pode criar maravilhas, está bom, não está?

Roberto Gambini em “ Voz e o Tempo – Reflexões para jovens terapeutas”, Atel Editorial.

Foto: Paula Stéfani
Imagem: Carin Welz-Stein

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