CARTA JUNG E SERRANO - CÍRCULO HERMÉTICO
“Ser é fazer e criar.
Nossa existência, porém, não
depende unicamente de nossa vontade própria, porque nosso fazer e criar
dependem em grande parte do domínio do Inconsciente. Eu não estou somente projetando-me
a partir do meu ego, mas também fui feito para ser criativo e ativo; permanecer
imóvel é bom apensas para alguns que foram demasiado ativos ou erradamente
ativos. Caso contrário, é um artifício não natural que interfere
necessariamente com nossa natureza.
Crescemos, florescemos e
murchamos, e a morte é quietude última, ou assim parece ser. Mas muito depende
do espírito, isto é, do sentido ou significado segundo o qual fazemos e criamos
ou, em outras palavras, do sentido segundo o qual vivemos. Esse espírito expressa-se
ou manifesta-se numa Verdade, que é inequívoca e absolutamente convincente para
a totalidade do meu ser, embora o intelecto, em seu perambular sem fim,
continuará sempre com seus “mas” e seus “talvez”,
que, contudo, não deveriam ser suprimidos , mas sim recebidos como ocasiões para
aperfeiçoar nossa Verdade....
Essa é a razão porque procuro
encontrar a melhor Verdade e a luz mais clara. E uma vez alcançado esse ponto
mais alto, não posso ir além.
Guardo minha luz e meu tesouro, convencido
de que ninguém sairia ganhando – e eu mesmo seria ferido sem esperança – se a
perdesse. Ela é o que há de mais alto e precioso, não apenas para mim como
também, sobretudo, para a escuridão do Criador, que necessita do Homem para
iluminar sua Criação. Se Deus houvesse previsto inteiramente seu mundo, este
seria uma mera máquina sem sentido e a existência do homem um inútil capricho.
O Intelecto pode vislumbrar a última necessidade, mas a totalidade do meu ser
diz “ Não” a isso.....
Sinceramente seu,
C.G. Jung”
Carta de JUNG para Miguel
Serrano, em “O Circulo Hermético”, 1960. Editora Brasiliense.
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