CIVILIZAÇÃO OU FELICIDADE?
Os xamãs e povos indígenas sabem preservar o contato com suas raízes ancestrais e a com a força dos animais selvagens.
A diversidade aparente não nega a
unidade essencial. Assim como o organismo físico dos homens, não obstante a
infinita variedade e a singularidade de cada corpo individual, apresenta uma
uniformidade anatômica essencial ( todos tempos cabeça, tronco, membros,
pulmões lábios, rins, fígado, etc) ; da mesma forma a mente, não obstante a
extraordinária variedade de culturas, tradições e peculiaridades individuais,
apresenta um uniformidade psíquica essencial que independe do processo
histórico e da forma de organização social. Cada indivíduo carrega não só nos
órgãos físicos de seu corpo, mas também na sua vida mental. Como uma relíquia
herdada do ambiente ancestral da nossa espécie, a pré-história da humanidade.
O ponto crucial aí está. A pessoa
civilizada é na verdade uma construção elaborada erguida sobe uma base animal
que sempre permanece com ela. A constituição psíquica do homem, fruto de um
longo processo evolutivo, é muito menos plástica ou maleável do que supunham a vertente dominante
da era iluminista e todos os adeptos da crença na perfectibilidade humana do
século XIX.
.. A domesticação do animal
humano tem um preço. Nossa constituição psíquica não aceita de bom grado e
resiste surdamente às múltiplas interdições, pressões e ditames da convivência
civilizada. O homem carrega dentro de si um universo mental com um tempo de
mudança muito distinto do que preside às mudanças no campo da ciência, da
técnica e do pregresso econômico. Mas assim como se constata hoje que a
exploração do meio ambiente natural pelo homem vem produzindo uma séria ameaça
de desastre ecológico, parece razoável supor que estejamos vivendo um espécie
de crise da ecologia psíquica,
produzida pelo crescente descompasso entre o ambiente interno do anima homem- a
natureza humana pré-lógica e pré-civilizada que herdamos da nossa trajetória evolutiva
–e o ambiente externo da civilização tecnológica.
A pergunta básica que fica é: a civilização entristece o animal humano?
Do livro: Felicidade, pagina 106
Autor: Eduardo Gianetti
Editora Companhia das Letras
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