SIMBOLISMO DOS CONTOS DE FADA
“Os antigos contos de fadas, que nos são narrados por seus intérpretes modernos, Bruno Bettelheim, Robert Bly, Joseph Campbell e Clarissa Spinkola, são mapas antigos que oferecem a sua própria orientação para o completo desenvolvimento dos seres humanos. A sabedoria desses contos que chegam aos nossos dias vem de uma época anterior à escrita, e eles foram narrados no crepúsculo e na escuridão, ao redor de fogueiras, por milhares de anos. Embora por si mesmos sejam histórias cativantes e envolventes, também simbolizam, em grande parte, dramas com os quais nos deparamos quando buscamos plenitude, felicidade e paz.
Os reis e as rainhas, príncipes e princesas, anões
e feiticeiras não são personagens meramente “ lá de fora”. Nós os conhecemos
intuitivamente como aspectos de nossa própria psique, parte do nosso próprio
ser, tateando na busca da satisfação. Nós abrigamos o ogro e a bruxa, e eles
têm que ser encarados e aceitos ou vão nos consumir ( nos devorar). Os contos
de fadas são uma antiga orientação, contendo uma narrativa, para nossa
sobrevivência instintiva, nosso crescimento e integração em face de dragões e demônios
interiores e exteriores, bosques escuros e desertos.
Essas histórias nos lembram de que vale a
pena buscar o altar onde nossos próprios seres fragmentados e isolados podem se
encontrar com outros e casar, trazendo novos níveis de harmonia e compreensão
para nossas vidas, até o ponto a partir do qual poderemos viver realmente
felizes – o que realmente importa no aqui e agora atemporais. Essas histórias
são sábias e antigas, projetos surpreendentemente sofisticados para o
nosso pleno desenvolvimento como seres
humanos.
Um tema recorrente nos contos de
fadas é o da criança, habitualmente um príncipe ou uma princesa que perde a sua
bola de ouro. Não importa se somos homem ou mulher, velho ou jovem, cada uma de
nós tem um pouco tanto do príncipe quanto da princesa ( dentre outras
incontáveis figuras), e houve época em
que cada um de nós brilhou com a inocência dourada e a infinita promessa
contida na juventude. E nós ainda carregamos aquele brilho dourado, ou podemos
recuperá-lo, se tivermos o cuidado de não deixar que nosso desenvolvimento
fique preso.
.... Dialogar com esses aspectos de nossa psique que instintivamente
desviamos para os confins de nosso inconsciente é um pré-requisito. Isso pode
ser bastante assustador, porque a sensação que surge é a mesma de quando
penetramos na escuridão, no desconhecido, em lugares misteriosos".
A esse respeito diz Marie-Louise
von Franz, que estudou profundamente o simbolismo dos contos de fadas:
“ Contos de Fadas são a expressão
mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo.
Conseqüentemente, o valor deles para a investigação científica do inconsciente
é sobejamente superior a qualquer outro material. Eles representam os
arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa. Nesta forma pura, as
imagens arquetípicas fornecem-nos as
melhores pistas para a compreensão dos processos que se passam na psique
coletiva. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais
elaborado, atingimos as estruturas básicas da psique humana através de uma
exposição do material cultural. Mas nos contos de fadas existe um material
cultural consciente muito menos especifico e, conseqüentemente, eles espelham
mais claramente as estruturas básicas da psique”.
Fontes: “A mente alerta”, de Jon
Kabat-Zinn.Editora Objetiva,RJ 2001.
“ A interpretação dos Contos de
Fadas”, de Marie Louise von Franz. Editora Achiamé, RJ, 1981.
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