SÍMBOLOS DO SOL E DA ÁGUA : FONTES DA VIDA
Foto de Clark Little
Sobre imagens do Sol e da água
escreveu Carl G. Jung:
...“Para isto, devemos nos
reportar, mais uma vez ainda, à série de símbolos de que já tratamos, mas desta
vez levando em conta o seu significado.
O sol, que encabeça a série, é a fonte do calor e da luz e o centro inegável de
nosso mundo visível. Por isso, como dispensador
da vida, ele tem sido, por assim dizer, em todos os tempos, e em todos os
lugares, ou a divindade em pessoa, ou, pelo menos uma de suas imagens. Até
mesmo no universo das representações cristãs é uma alegoria muito difundida de
Cristo.
Uma segunda fonte da vida é,
particularmente nos países meridionais, a
água que, como se sabe, desempenha um papel de importância na alegoria
cristã, como, por exemplo, na figura dos quatro rios do paraíso e da fonte que
jorra ao lado do monte do templo. Essa
última foi comparada com o sangue que saiu da chaga de Cristo na cruz. Neste
contexto quero lembrar o diálogo de Cristo com a Samaritana junto ao poço de
Jacó, bem como os rios de água viva que haveriam de brotar do lado de Cristo.
Uma meditação sobre o sol e a água evocará estas e outras relações de sentido, que levarão o contemplador gradualmente do plano inicial das aparências externas para o plano de fundo das realidades ou, em outras palavras, para o sentido espiritual dos objetos de sua meditação que se acha por trás dessas aparências. Com isso ele se transfere para a esfera do psíquico, onde o sol e a água são despidos de sua objetividade física, e conseqüentemente, transformados em símbolos de certos conteúdos psíquicos ou em imagens da fonte da vida dentro da própria alma.
Nossa consciência não se cria em
si mesma, mas emana de profundezas desconhecidas. Desperta gradualmente na
criança, e cada manhã, ao longo da existência, desperta das profundezas do
sono, saindo de um estado de inconsciência. É como uma criança que nasce
diariamente das profundezas do inconsciente materno. Sim, um estudo mais
acurado da consciência nos mostra claramente que ela não é somente influenciada
pelo inconsciente, como também emana constantemente do abismo do inconsciente, sob
a forma de inúmeras idéias espontâneas. Por isso, a meditação sobre o significado
do sol e da água é como uma descida à fonte psíquica, ou, em outras palavras,
ao nosso inconsciente”.
Do livro: Espiritualidade e Transcendência,
textos de Carl G. Jung
Seleção e edição de Brigitte
Dorst, editora Vozes, 2015.
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