INDIVIDUAÇÃO E O SELF



Marie-Louise von Franz

" O que Jung denominou " processo de individuação" é, do mesmo modo, uma experiência que não se restringe de maneira alguma ao contexto da terapia junguiana. Esse caminho para a maturidade é seguido naturalmente por muitas pessoas, sozinhas ou na dependência de algum valor espiritual tradicional. O terapeuta, ao tratar desse tipo de paciente, funciona apenas como uma parteira no nascimento de um processo de crescimento e de tomada de consciência, na direção do qual a própria natureza parece estar labutando por seguir.

" Na realidade (...) a individuação é uma expressão desse processo biológico - simples ou complicado, conforme o caso - por meio do qual toda coisa viva se torna o que está destinada a ser desde o começo. O alvo da individuação, tal como o retratam as imagens do inconsciente, representa uma espécie de ponto médio  ou de centro em que o valor supremo e a maior intensidade de vida se acham concentrados. Não o podemos distinguir das imagens do valor supremo das várias religiões.

Aparece no processo de individuação com a mesma naturalidade com que se manifesta nas religiões, no mundo cristão, por exemplo como um "castelo interior" (Teresa de Ávila), uma cidade  ou jardim de quatro lados, como um scintilla animae, como a imago Dei que há na alma, como o " círculo cuja periferia não está em lugar nenhum e cujo centro está em toda parte", como um cristal, uma pedra, uma árvore, um recipiente ou uma ordem cósmica - ou mais uma vez, nas religiões orientais, como uma flor de ouro de quatro pétalas, como a luz, como um " vazio" cheio de significado.

A experiencia dessa extremidade mais elevada, ou centro, traz ao indivíduo um senso de significado e de realização, na presença do qual ele pode aceitar a si mesmo e encontrar um caminho intermediário entre os opostos presentes na sua natureza interior.

... A experiencia do Self  traz a sensação de pisar num solo firme no interior de si mesmo, num terreno de eternidade interior que nem a morte física pode tocar".

Do livro: C G Jung - seu mito em nossa época
Editora Cultrix, 1992

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