Olhar a flor






“Em suas memórias póstumas, este pensamento se completa. Também ali ele ( Jung) narra o que dizia em sua carta sobre chefe dos índios pueblos, Ochwían Biano, que acreditava ajudar o Sol a levantar-se todas as manhãs.

E Jung procurava encontrar para o homem moderno um mito tão transcendental ou vital como aquele. Isso se revela em sua vida, no seu trabalho de anos: Iluminar a escuridão do Criador.

Dar consciência no sentido junguiano não significa racionalizar, mas sim projetar-se com “essa luz que é seu tesouro” e que emana daquela mesma “central” misteriosa da pessoa, do indivíduo, para dirigir-se ao reino das trevas e ir incorporando-o num processo sem fim.

Jung vê nos olhos dos animais o sofrimento da noite da criação, o medo de uma região em que não existe ainda a luz. E acredita descobrir que eles necessitam de nós, esperam que lhes revelemos o mundo e o mistério de suas existências dolorosas, para que os contemplemos e os reflitamos, projetando-os na luz.
Em uma palavra: para que cheguemos a ser o espelho da criação, do animal, da árvore, do rio, da pedra e talvez, de Deus mesmo.

Somos enfim, a consciência do mundo, o espelho da flor; a natureza nos formou através das idades, para que a revelemos, para que a contemplemos me sua efemeridade, em sua evanescência. E aí estão, pois, os seres, os objetos sacramentais, esperando-nos. Nós passamos e não sabemos. Passamos, sem ver, sem olhar.
Passamos sem saber que a flor grita porque a admiramos, que a frigideira espera nosso bom dia matinal, que o Sol necessita que o ajudemos a manter-se no alto, que a Terra deseja ser auxiliada no seu movimento de rotação.

E quando chegarmos a olhar a flor, ela sabe disso, sente e nos devolverá esse olhar com alguma forma de amor, talvez quando estivermos nos dissolvendo no seio da terra”.
Do Livro: Círculo Hermético : de Herman Hesse para Carl G Jung
Miguel Serrano
Editora Brasiliense,1973.
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