Zilda Arns: esperança!



Por Tereza Kawall

“Não é hora de perder a esperança”

A simplicidade da frase de D. Evaristo Arns traz em seu bojo muito mais do que o seu sentido mais óbvio e imediato, tendo em vista a comoção da perda de sua “caríssima” irmã.
.A morte súbita e dramática de Zilda Arns é um convite à reflexão, algo que vem se tornando cada vez mais raro e difícil neste oceano de pragmatismo e indolência que assola nosso tão pobre e tão rico país.

Dona Zilda construiu ao longo de sua vida obras que muitas “ primeiras damas” são incitadas a fazer mas não conseguem, uma vez que os gestos e posicionamentos dessa natureza não vêm do cargo, mas sobretudo da alma.

Já foi dito por muitos que a ausência da presença feminina em cargos de poder é em grande parte responsável pela degradação social e política do mundo contemporâneo.
Ao olhar as imagens da médica e mãe Zilda, carregando e beijando crianças que de tudo carecem e seu largo sorriso de satisfação, penso que sim, estamos todos carentes do feminino em nossas vidas.
Não da expressão mais domesticada e vulgar do feminino, embotocado e oferecido para a mídia voraz e vazia.

Mas do feminino arquetípico, aquele que sabe acolher, nutrir, ouvir, carregar e preservar a vida. O feminino que jorra das fontes, que suaviza e alimenta, que nos acalma, simplesmente abraça e aceita aquilo que somos.

Zilda Arns, soube aliar com maestria e dignidade, a sabedoria e a bondade do feminino ao fazer “ masculino”, que é dotado de lógica, visão, determinação e ação efetiva no mundo.
Vejo nela a ambição e a espiritualidade em seu mais alto sentido, que inclui a fé, a disciplina e a perseverança. Quantos obstáculos burocráticos, políticos e existenciais possivelmente tentaram impedir suas belas realizações?

Vejo também um bálsamo e um contraponto para nossos olhos cansados das imagens diárias e degradantes de nossos governantes inescrupulosos, atuando de forma psicopática, tentando nos convencer sempre da evidência contrária aos graves crimes por eles cometidos. Mentem, sacrificam nossos bolsos e aos poucos vão espoliando também nossos valores, nossa dignidade.

No entanto, e ainda bem, alguns seres humanos são mesmo especiais, e ao passar por aqui não nos deixam esquecer: “ sim, a bondade, a dignidade e a solidariedade são possíveis, existem”!


Felizmente as sementes do projeto Pastoral da Criança já se espalharam e germinaram pelo mundo!

Zilda Arns, que a força de seus gestos e a doçura de seu sorriso permaneçam vivos entre aqueles que têm esperança.



Comentários

Denise disse…
Belíssima explanação de um idealismo verdadeiramente construído na devoção pelo mundo melhor, na fé de renovação pela graça feminina que empresta o colo de mãe pela alma acolhedora, mas que ultrapassa, como tão bem vc ressalva, o estereótipo consagrado.

Que o exemplo se propague como a obra que fica! E que possamos realmente refletir...para mudar!

Parabéns pela inspirada defesa e bonita homenagem!
Bjos
Anônimo disse…
nossa, como precisamos do feminino!!
bjos
Ni
Tereza Querida, parabéns por tão belo tributo à Zilda Arns! Um ser sublime, profundo, objetivo, determinado e acolhedor como ela que tanto realizou em prol das crianças e idosos. É o símbolo máximo do feminino, como também da integração do mesmo com o masculino. Pois desta união consagrada suas obras se deram, através de seu impulso, coragem, ousadia e persitência. Esta emanação brilhante de AMOR ao próximo traz ESPERANÇA em termos entre nós, seres humanos ainda dotados de tamanha magnitude. Abençoada seja sempre! Beijo. Meu afeto.
Rosa Maria disse…
Parabéns pelo texto sensível e preciso.É importante ter abordagens como a sua e, sobretudo, pessoas como a dra. Zilda neste nosso planeta; ambas só dignificam o feminino.

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