TRANSITORIEDADE DA VIDA
Viktor Frankl
Entre as coisas que parecem tirar
o sentido da vida humana estão não apenas o sofrimento, mas também a morte.
Nunca me canso de dizer que os únicos aspectos realmente transitórios da vida
são as potencialidades; porém no momento em que são realizadas, elas se transformam
em realidades; são resgatadas da transitoriedade. Isso porque no passado nada
está irremediavelmente perdido, mas está tudo irrevogavelmente guardado.
Sendo assim, a transitoriedade da
nossa existência de forma alguma, lhe tira o sentido. No entanto, ela constitui
a nossa responsabilidade, porque tudo depende de nos conscientizarmos das
possibilidades essencialmente transitórias. O ser humano está constantemente
fazendo uma opção diante da massa de potencialidades presentes; quais delas
serão condenadas ao não-ser, e quais serão concretizadas? Qual opção se tronará
realidade de uma vez para sempre, imortal como “pegada nas areias do tempo”? A
todo e qualquer momento, a pessoa precisa decidir, para o bem ou para o mal,
qual será o monumento de sua existência.
Não há dúvida que geralmente a pessoa somente leva
em conta os restolhos da transitoriedade e se esquece dos abarrotados celeiros
do passado onde ela guardou, de uma vez
por todas, os seus atos, suas alegrias e também seus sofrimentos. Nada pode ser
desfeito, nada pode ser eliminado; eu diria que ter sido é a mais segura forma de ser.
Ao considerar a transitoriedade
essencial da existência humana, a logoterapia não é pessimista, mas antes
ativista. Em linguagem figurada, poderíamos dizer que o pessimista parece um
homem que observa com temor e tristeza que a sua folhinha na parede vai ficando mais fina a cada dia que passa. Por outro lado, a
pessoa que enfrenta ativamente os problemas da vida é como o homem que, dia
após dia, vai destacando cada folha de seu calendário e cuidadosamente a guarda
junto às precedentes, tendo primeiro feito no verso alguns apontamentos
referentes ao dia que passou. É com orgulho e alegria que ele pode pensar em
toda a riqueza contida nessas anotações, em toda vida que ele viveu em
plenitude.
Que lhe importa notar que está ficando
velho? Terá ele alguma razão para ficar invejando os jovens que vê, ou de cair
em nostalgia por ter perdido a juventude? Que motivos terá ele para invejar uma
pessoa jovem? Pelas possibilidades que estão à frente do jovem, do futuro que o
espera? “ Eu agradeço”, é o que ele vai pensar.
“ Em vez de possibilidades, realidades
é o que tenho no meu passado, não apenas a realidade do trabalho realizado e do
amor vivido, mas também da realidade dos sofrimentos suportados com bravura.
Esses sofrimentos são até mesmo as coisas das quais me orgulho mais, embora não
sejam coisas que possam causar inveja”.
Viktor Frankl em : Em busca do
sentido
Editora Sinodal
Foto: Tord Andre Oen
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