SANTUÁRIOS DA DA VIDA II

Herman Hesse (1877-1962) -- A ÁRVORE

“Nada é mais sagrado, nada é mais espetacular, que uma linda árvore. Quando uma é cortada, ela mostra a todos sua história, através da ferida mortal exposta ao sol, no disco de seu tronco, nos anéis dos anos. Em suas cicatrizes, mostra toda a luta para crescer, mostra suas doenças, seu sofrimento, suas alegrias e prosperidade. 

Mostra também os ataques enfrentados e a sobrevivência às grandes tempestades. E qualquer garoto do campo sabe que a melhor madeira tem os anéis mais estreitos e que no alto das montanhas, nos lugares mais perigosos, nascem as árvores mais formidáveis e indestrutíveis.”


Uma árvore diz: uma semente se esconde em mim, uma faísca, um pensamento, uma possibilidade imensa. Sou a vida da vida eterna. A tentativa e o risco que a Mãe corre comigo é único e particular. Minhas veias, meu tronco, as cicatrizes em minha casca, são exclusivos, assim como são singulares minhas folhas e seus jogos com o vento. Fui feita para refletir o eterno em seu mais minucioso detalhe.”



“A árvore diz: a minha força é a fé. Nada sei sobre meus pais nem sobre as milhares de crianças que cada ano despontam em mim. Vivo o segredo de minha semente até o limite. E nada mais me importa. Confio no Deus, na inteligência suprema, que existe em mim. Confio na natureza sagrada do que faço. Nesta fé eu vivo.”


“Quando somos acometidos por algum problema insolúvel e nossas vidas se tornam terríveis, a árvore nos aconselha: “Aquiete-se!! Olhe para mim, me escute! A vida não é fácil. Mas também não é difícil. Deixe que Deus fale dentro de você, como eu faço todos os dias, e seus pensamentos se aquietarão. Você está ansioso porque seu caminho o leva para longe de sua casa. Mas cada dia, mesmo que indiretamente, você está mais perto de sua casa, de seu lar. Sua casa não é aqui nem lá. Sua casa está dentro de você – senão, não está em lugar algum.”



“Ouço a árvore me chamando à noite, com o barulho de suas folhas ao vento. Bem quando começo a ter pensamentos infantis, causando-me angústia. Árvores tem pensamentos profundos, com respiração profunda, pensamentos doces e calmos, com duração muito superior à dos nossos pensamentos. São mais sábias que nós só até aprendermos a escutá-las. Quando as escutamos, a efemeridade de nossas preocupações se transforma em uma alegria inexplicável. Aí deixamos de querer ser como elas. Queremos ser nada além do que de fato somos. Este é o nosso lar – ser quem somos. Aí está toda a nossa felicidade.
Herman Hesse (1877-1962) extraordinário escritor alemão, naturalizado suíço, autor de, entre outros, “Sidarta” (1922), ganhador do Premio Nobel de Literatura em 1946. Li “Sidarta”, em 1973, livro fundamental pra mim. 

Relendo o Hesse agora, descobri a imensa sabedoria e beleza no que escreve:



“Para mim as árvores tem sido sempre os mestres mais formidáveis de minha vida. Adoro quando as encontro em tribos – em florestas e matas. Gosto ainda mais quando as encontro sozinhas. São como pessoas solitárias. Mas não como eremitas, fugindo do convívio com os outros, por causa de alguma fraqueza. São como grandes homens, como Beethoven ou Nietzsche. 

Seus galhos mais elevados alcançam as estrelas e suas raízes mais profundas encontram o centro da Terra. Mas, nem em sua profundidade nem em sua elevação, se perdem. Continuam lutando com toda força por uma coisa: ser quem tem que ser, de acordo com suas próprias leis. Crescem para demonstrar quem são, para serem representadas no mundo.”
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