ANIMUS E O PAI
“De maneira normal o homem
somente chega a conhecer a sua anima quando a projeta; o mesmo se dá com a
mulher e seu Sol escuro. Se ela tem Eros em ordem, também seu Sol não será
escuro demais, e o portador correspondente dessa projeção talvez até signifique
uma compensação útil. Se houver algo
errado com Eros ( infidelidade ao próprio amor!) então corresponde à escuridão
de seu Sol uma pessoa masculina possuída pela anima, “ que tira do barril para
servir” um espírito de qualidade inferior, tão embriagante como álcool forte.
O Sol escuro da psicologia
masculina feminina está relacionado com a imagem do pai, pois de fato é o primeiro
a encarnar para ela a imagem do animus;
é ele quem dá conteúdo e forma a essa imagem virtual, pois ele, em virtude do
seu Logos se torna para a filha a fonte do “ espírito”.
Lamentavelmente, o
jorro dessa fonte também pode turvar-se, quando se deveria supor aí água
cristalina. O espírito que serve à mulher não é realmente um puro intelecto,
mas é mais do que isso: é uma atitude,
isto é, um espírito no qual se
vive. Também um espírito por assim dizer “ ideal” nem sempre é o melhor, se
ele simultaneamente não entender também como lidar de modo correto com a
natureza, ou respectivamente com o homem-animal; isto aliás seria o ideal.
Todo pai tem, pois, sob todos os
aspectos, ocasião suficiente para estragar não pouca coisa no ser mais íntimo
de sua filha, o que depois tem de ser tratado pelo educador, pelo marido e pelo
médico em caso de neurose. A razão é que “o que foi estragado pelo pai somente
por outro pai poderá ser restaurado, e “o que foi estragado pela mãe por outra
mãe pode ser reparado. O que nos é dado observar nesse domínio poderíamos
designar como pecado original psicológico, ou como maldição de atridas, que
atua atrevais das gerações.
Ao julgar criticamente tais coisas, ninguém se
considere tão seguro se respeito do bem quanto do mal...... (várias referencias
sobre a questão do bem e do mal na humanidade)
Estas alusões devem bastar para
de certo modo indicar como deve ser aquele espírito de que a filha necessita:
são verdades que falam à alma, são coisas que jamais se manifestam com voz
forte e com insistência, mas que atingem cada um que percebe o sentido do mundo.
De tal saber precisa a filha para que ela o passe adiante a um novo filho”.
Carl Gustav Jung
CW XIV, Mysterium Coniunctiones,
editora Vozes, RJ.
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