SÍMBOLOS MITOLÓGICOS DA LUA
Tereza Kawall
Em termos mitológicos, a Lua é a representação da
Grande Deusa ou Grande Mãe, patrona da fertilidade, concepção e crescimento,
tanto na vida vegetal, quanto animal ou humana. Como Ártemis da antiga Grécia,
ou Ísis do antigo Egito, ou Shakti da cosmologia hindu, deusas mães ou
divindades lunares regiam, além do ciclo anual da vegetação, o ciclo humano do
nascimento, da vida e da morte.
Diz Jung sobre o arquétipo materno:
Como todo arquétipo, o
materno também possui uma variedade incalculável de aspectos. Menciono apenas
alguns (..) a própria mãe, avó (...), a deusa, a Mãe de Deus, a Virgem, (...) a
Igreja, a Universidade (...), o Céu, a terra, a floresta, o mar, as águas
quietas, o subterrâneo, a Lua. No sentido mais restrito, o lugar do nascimento,
a concepção, o jardim, a gruta, a fonte, o poço (...) (Jung, 2000: 156)
O símbolo da Lua, como outros,
possui uma dimensão mais universal e outra mais individual, e todas as imagens
ou narrativas a ele relacionadas são auto-retratos da psique coletiva, o que dá
ele um caráter multidimensional.
Um fator relevante no que diz respeito a essa
simbologia lunar é a compreensão deste arquétipo ou divindade com duas faces
distintas. No que diz respeito ao arquétipo materno, as imagens das deusas mães
como grandes provedoras tinham também seu lado sombrio. Os poderes
fertilizadores das águas das chuvas e dos rios estavam sob o domínio das
grandes divindades femininas. Eram elas que poderiam produzir excelentes
colheitas ou então chuvas torrenciais que significavam devastação e fome.
Esta relação também pode ser compreendida a partir das
variações do ciclo da lua no céu, ora crescendo, ora minguando.
Afirma Liz
Greene sobre essa ambivalência lunar:
Ao jogar com as imagens
evocadas por essas três fases, podemos ver como a Lua nova, essa traiçoeira Lua
negra, se associa à morte, à gestação, à feitiçaria, e à deusa grega Hécate,
regente dos nascimentos e da magia negra. Após o escurecimento da Lua, vinha a
Lua crescente, com sua virginal delicadeza e suas promessas. Sua forma é de uma
tigela aberta, pronta para receber um conteúdo vindo de fora. A Lua crescente
era relacionada com a deusa virgem Perséfone, raptada por Hades. A Lua cheia,
por outro lado, tem uma aparência grávida; é redonda e suculenta, plena e
madura, e seu parto pode ocorrer a qualquer momento. É a Lua em seu poder
máximo, associada à deusa da fertilidade Deméter, a mãe de todos os seres vivos.
(Greene, 1994:6)
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