ARQUÉTIPOS MATERNO E PATERNO


"Não foi por acaso que escolhi precisamente o exemplo  de uma manifestação infantil do arquétipo. A imagem primitiva mais imediata é certamente a da mãe, pois ela em todos os sentidos a vivencia mais próxima e mais poderosa que atua no período mais impressionável da vida humana. Como a consciência está muito pouco desenvolvida na infância, não se pode falar propriamente de uma vivencia “individual”. Ao contrario, a mãe é uma evidencia arquetípica. A criança vivencia de modo mais ou menos consciente, e não como uma personalidade determinada, individual, e sim com a mãe, um arquétipo carregado de uma infinidade de significados possíveis. No decorrer da vida esta imagem empalidece e é substituída por uma imagem consciente, relativamente individual, considerada a única imagem materna possível. Mas no inconsciente a mãe continua sendo uma poderosa imagem primitiva, que, no curso da vida individual  e consciente, passa a colorir e até a determinar as relações com a mulher , a sociedade, o mundo dos sentimentos e dos fatos, de uma maneira tão sutil que em geral o consciente nem percebe este processo.


O arquétipo de mãe é o mais imediato e próximo a uma criança. Mas com o desenvolvimento do consciente, também o pai entra em cena e reativa um arquétipo que, sob muitos aspectos, se opõe ao da mãe. O arquétipo da mãe corresponde à definição chinesa do yin e o arquétipo do pai, à definição do yang. Ele determina a  relação com o homem, com a lei e o Estado, com razão e o espírito, com o dinamismo da natureza. A “pátria” supõe limites, isto é, localização determinada, mas o chão é solo materno em repouso e capaz de frutificar. O Reno é um pai, como o Nilo, o vento, a tempestade, o raio e o trovão. O pai é autor e autoridade, e por isso é a lei e Estado. È aquilo que se move no mundo como o vento, é aquilo que cria e dirige com idéias invisíveis – imagens aéreas. È os sopro criador do vento – pneuma, spiritus, atmã, o espírito.
Portanto, também o pai é um poderoso arquétipo que vive no íntimo da criança. Também o pai é antes de tudo o pai, uma imagem abrangente de Deus, um principio dinâmico. No correr da vida, também esta imagem autoritária vai retrocedendo ao plano de fundo: o pai se transforma numa personalidade limitada e demasiado humana. Por outro lado, a imagem do pai vai ocupando todas as dimensões possíveis. Assim como foi lento em descobrir a natureza, o homem também só descobriu aos poucos o Estado, a lei, o dever, a responsabilidade e o espírito. Na medida em que a consciência em evolução se torna capaz de compreender, a importância da personalidade parental definha. Mas no  lugar do pai surgiu a sociedade dos homens e no lugar da mãe veio a família.

Segundo penso, seria incorreto dizer que tudo tomou o lugar dos pais nada mais é do que substituição da inevitável perda das imagens primitivas dos pais. O que tomou o lugar deles não é simples substituição, mas uma realidade já vinculada aos pais e que se impôs à psique da criança através da imagem primitiva deles.
A mãe que providencia calor, proteção e alimento é também a lareira, a caverna ou cabana protetora e a plantação em volta. A mãe é também a roça fértil e seu filho é o grão divino, o irmão, e amigo dos homens. A mãe é a vaca leiteira e o rebanho. O pai anda por aí, fala com os outros homens, caça, viaja, faz guerra, espalha seu mau humor qual tempestade, e, sem muito refletir, muda a situação toda num piscar de olhos. Ele é a guerra e a arma, a causa de todas as mudanças. É o touro provocado para a violência ou para a preguiça apática. É a imagem de todas as forças elementares, benéficas ou prejudiciais”.
Carl Gustav Jung

Civilização em Transição, Editora Vozes


Parágrafos: 64,65,66,67. 

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