INDIVIDUAÇÃO



Individuação, o caminho para o centro


Para Von Franz, a individuação não é um fenômeno que se restringe à terapia junguiana. Trata-se, antes de mais nada, de um caminho natural para a maturidade.Este pode ser conseguido tanto solitária quanto coletivamente, por exemplo, dentro de uma tradição espiritual. O papel do terapeuta nesse processo se assemelharia ao de uma “ parteira”, que auxiliaria na iluminação ( conscientização) do que a natureza e a cultura ofereceram ao indivíduo.

Se biologicamente todo ser vivo tem um potencial ( como o genético) para tornar-se o que está destinado a ser, a individuação pode ser considerada uma expressão psíquica desse processo biológico.

Para Perry, um dos grandes feitos de Jung foi considerar o movimento para o crescimento e inteireza psíquica um impulso instintivo. Com isso, pode-se depreender do processo de individuação que:



a) é algo natural a todas as pessoas
b) manifesta-se espontaneamente
c) não é comandado pelo Ego, mas por forças arquetípicas do inconsciente.

Perry refere-se ao processo de individuação como uma contínua realização das potencialidades da pessoa, um movimento arquetípico que caminha:

“(...) em direção à realização dos padrões básicos do indivíduo, lutando em direção à inteireza, à totalidade e à diferenciação das potencialidades específicas naturalmente destinadas a formar aquela personalidade particular. O inconsciente é a matriz da qual essas várias qualidades emergem, passo a passo, em direção a diferenciação em consciência....”

Segundo o autor, os conteúdos do inconsciente se aproximam da consciência, sob a forma simbólica, até que o Ego aprenda a entendê-los e incorporá-los, O padrão para a inteireza da personalidade residiria nessa matriz inconsciente e seria ativado pelas experiências da pessoa. A individuação não se daria por uma simples vontade. Nem por um ideal egóico ou pela educação, pois trata-se de “ um anseio dinâmico, carregado de afeto, que emana do centro do indivíduo e se apresenta à consciência como símbolos arquetípicos”.

A psicologia analítica atribui tanta importância aos símbolos justamente por acreditar que eles nos darão as pistas do que está contido na matriz inconsciente. Ao longo da análise, o indivíduo vai se tornando apto a compreender o que dizem os seus sonhos e a utilizar técnicas expressivas para as suas fantasias, como, por exemplo, os desenhos. Estas técnicas auxiliam a leitura do que é permanentemente comunicado pelo arquétipo central.

O alvo da individuação , como referido no capítulo anterior, é esse ponto central, que expressa a totalidade psíquica. As mandalas são imagens que retratam tanto o Self como o seu centro.

Esse centro da personalidade funciona como uma fonte de energia que se manifesta no sentido de realizar-se, tornar-se o que realmente é.

Adler nos lembra que o Self nunca sra uma posse, uma conquista final do indivíduo. Ou seja, jamais a consciência vai se apossar da parte arquetípica que carregamos. Para a psicologia analítica, por mais que o indivíduo anseie, nunca viverá na totalidade. Podem-se manter contatos mais duradouros com o arquétipo central, mas em seguida haverá uma inevitável afastamento. No entanto, é graças a esse movimento de aproximação que o sujeito pode manter, na realidade cotidiana, o conhecimento adquirido com o centro da psique. Essa mesma visão é aplicada às técnicas de meditação. Ao recomendar a prática regular, visam um acréscimo progressivo de consciência e advindo do mergulho repetido em direção à totalidade do ser”.


Do livro: O Tao e a Psicologia
Autor: Pulo V. Bloise
Editora Angra, SP.

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