Deuses da mudança

Texto de Howard Sasportas


“ Nem sempre a vida é fácil. É impossível viver profundamente e não sentir dor ou atravessar tempos de crises, colapsos ou mudanças e rupturas importantes. Embora tudo isso seja inevitável, o que nem sempre fica óbvio é o papel crucial que a dor e a crise desempenham no processo de crescimento e evolução. Enquanto algumas pessoas desabam completamente e nunca mais se recuperam de tempos difíceis, muitas outras emergem renovadas e transformadas de conflitos e reviravoltas- na verdade com um sentimento mais pleno de estarem vivas. Tais pessoas “ retornam à vida” com um compromisso renovado em relação a um potencia negligenciado, com um senso renovado do que poderíamos chamar de “ sagrado” na vida e com maior sensibilidade em relação às outras pessoas.

Os antigos chineses tinham uma palavra sábia para nomear “ crise”: wei-chi, uma combinação de duas outras palavras, perigo(wei) e oportunidade(chi). Pode-se ver uma crise como uma catástrofe, como algo terrível a ser evitado a qualquer custo, mas também pode-se entendê-la como uma virada, um estágio ou degrau crítico em desenvolvimento – como a possibilidade de acontecer algo novo, uma oportunidade de deixar as coisas correrem e se transformarem.
É bastante humano recuar diante de situações dolorosas, desejar ardentemente que as coisas voltem a ser como eram antes da crise ter ocorrido. E mesmo assim também é possível que tais tempos possam ser usados como oportunidades para desenvolver e crescer, mas aprender mais sobre a vida e sobre si mesmo.
Algo morre, mas algo novo nasce. Nada permanece inalterado: o velho passa, mas algo diferente pode emergir.
Roberto Assagioli, o fundador da psicossíntese, chamou isso de “ colaboração com o inevitável”. Viver plenamente significa experimentar e aceitar tanto a luz como a escuridão, a alegria e a dor.
Na maior parte dos casos, os temos de dor, crise, colapso ou mudança têm correlação com trânsitos importantes de ou para Saturno, Quiron, Netuno ou Plutão, ou progressões envolvendo esses planetas.
Cada um deles traz o seu dilema distintivo peculiar, seu tipo particular de trauma, teste ou experimentação.
Um conflito que leve a marca de Saturno é diferente em sua natureza de uma crise envolvendo Urano; a confusão netuniana não provoca o mesmo sentimento que a ruptura uraninana; e o pulverizante Plutão trabalha sobre nós de uma maneira própria e inesquecível, lembrando-nos do adágio que fala que “ a vida é como uma pedra nos tritura ou nos dá polimento”.
Mas não importa que tipos específicos de conflitos, traumas, paradoxos ou dilemas tragam esses planetas, todos eles têm uma coisa em comum: não querem deixar-nos do mesmo jeito que nos encontraram.

Dane Rudhyar escreveu certa vez que “ não é o evento que acontece à pessoa, mas a pessoa que acontece ao evento. Um indivíduo se encontra com determinados eventos porque necessita deles para tornar-se mais completo naquilo que é apenas potencialmente”.
Há pessoas que são afortunadas: mesmo em meio a uma grande confusão ou desespero, elas conseguem vislumbrar o sentido ou a relevância de uma crise em termos e seu crescimento e desenvolvimento – e essa compreensão as ajuda através de suas dificuldades.

“ Infeliz daquele que não viu mais qualquer sentido para sua vida, qualquer objetivo, qualquer propósito e, portanto, qualquer motivo para continuar. Cedo ele se perdeu”
Viktor Frankl
Do livro: Deuses da Mudança, de Howard Sasportas
Editora Siciliano

Comentários

Anônimo disse…
Ah! Como eu amo esse livro! Leitura fundamental para quem pretende entender o significado dos trânsitos ditos "difíceis" para nossa vida: não como uma fonte de sofrimento, mas como poderoso meio de evolução pessoal. Verdadeiros deuses...que operam as mudanças de que necessitamos.Beijos!

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