Será isso Liberdade?



Texto de Isabel Allende *


"O que acontecerá com este grande espaço vazio que sou agora? O que me irá preencher quando não sobrar o menor vestígio de ambição, projeto algum, nada de mim?


A força de sucção me reduzirá a um buraco negro e desaparecerei. Morrer...

Abandonar o corpo é uma idéia fascinante. Não quero continuar viva e morrer por dentro, se preciso continuar neste mundo, devo planejar os anos que me restam.

Talvez a velhice seja outro começo, talvez seja possível voltar ao tempo mágico da infância, àquele tempo anterior ao pensamento linear e aos preconceitos, quando eu percebia o universo através dos sentidos exaltados de um demente e estava livre para crer no inacreditável e explorar mundos que depois, na idade da razão, desapareceram.

Já não tenho muita coisa a perder, nada para defender: será isso liberdade?

Passa pela minha cabeça que nós, avós, temos o papel de bruxas protetoras, que devemos zelar pelas mulheres mais moças, pelas crianças, pela comunidade e também - por que não? - por este maltratado planeta, vítima de tantas violações.

Gostaria de sair voando numa vassoura e dançar com outras bruxas pagãs pelos bosques, ao luar, invocando as forças da terra e afugentando os demônios, quero virar uma velha sábia, aprender antigos sortilégios e segredos de curandeiros.

Não pretendo pouca coisa. As feiticeiras, como os santos, são estrelas solitárias que brilham com luz própria, não dependem de nada nem de ninguém, por isso não têm medo e podem se atirar no abismo, seguras de que não vão se arrebentar e de que sairão voando.

Podem se transformar em pássaros para ver o mundo de cima, ou em vermes capazes de enxergar tudo por dentro, podem viver em outras dimensões e viajar para outras galáxias, são navegantes num infinito oceano de paz e conhecimento."


*
Livro "Paula"
Enviado pela Liane Leipnitz, querida feiticeira do cerrado, que também adora cantar.

Comentários

Tereza, toda mulher especial traz em si a feiticeira. Aquela que usa o caldeirão com poções mágicas para a Vida. Na Alquimia dos elementos, o ser é sempre tranformado e transformador para os demais. A sua vassoura lhe proporciona alçar vôo sobre as dificuldades e vê-las sob outro prisma. E seu encanto é arrebatador, magnetizando o masculino que a ela reverencia. Os que não a sentem genuinamente, ainda tentam levá-la à Inquisição. Mas, sua alma sempre será liberta, independentemente do quanto for machucada materialmente. Este dom é a benção maior que traz consigo e assim sendo,indestrutível. Este é o nosso elo de ligação, minha tão querida amiga. Fazemos parte desta ritualística consagrada em nossa jornada desta Vida. Beijo. Meu carinho.

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