Dor da Alma
Roberto Gambini, no lançamento do livro: A Voz e o Tempo, novembro 2008.
A obra recebeu o Premio Jabuti de 2009 na categoria: Educação, Psicologia e Psicanálise.
“... então, devemos sempre nos perguntar se aquilo que inicialmente se manifesta como dor, ainda que muitas vezes negada e não nomeada, não poderá conter seu âmago uma matéria misteriosa e transformadora, que no entanto nenhuma psicologia define nem conceitua, como se fosse um território inaccessível à elaboração mental e ao entendimento.
Portanto, encaro a terapia como um trabalho capaz de tocar um cerne obscuro que nos apavora, e que até preferiríamos ignorar, que é o coração da agonia, porque lá, em seu mais íntimo, pulsa e vibra uma força de renascimento e restauração do que foi destruído e caiu nas trevas da sombra.
Algo portentoso: mas é difícil chegar nessa medula psíquica geradora de energias vitais, assim como os grandes físicos, dentre os quais Einstein, descobriram que no interior do átomo estavam aprisionadas energias descomunais. A fissão da dor e do átomo podem levar à bomba, ao suicídio e ao massacre – ou à energia nuclear.
A verdade é que mal se conhece a extensa dessa força criativa ou letal contida em estado potencial no átomo da dor.Fica assim evidente que a reflexão que vai e vem no pequeno espaço entre duas poltronas, ao longo do tempo, fundamentalmente gira em torno desse tema. Como chegar nesse caroço?....
"... queria ainda acrescentar que a alma doída adquire uma força, uma radicalidade surpreendente em sua maneira de se expressar e de entender as coisas. É como se, por sofrer, a alma se tornasse mais ousada e mais corajosa nos comentários que tem a fazer sobre esse mundo, suas desgraças, verdades e belezas.
A dor a torna mais eloqüente, mais penetrante, mais surpreendente, e esse seu modo de assim falar, podemos reconhecer em escritores, artistas, pensadores, inovadores de todos os tempos”.
“ A razão e o intelecto podem ancorar a expressão da alma; mas a origem desta expressão está nela mesma, e não nos primeiros.Essa força penetrante advém do fato de que só a alma que habitou o Hades consegue lançar luz sobre obscuridades que a luz da razão não ilumina. Sua luz é outra.
É como se a alma que sofreu adquirisse o poder de se iluminar a si mesma, para se revelar.
O que ela faz é apenas revelar-se; o resto é com a gente. Quer dizer: a alma somos nós.
Mas quando se revela, é o nosso ego, é a nossa consciência, é o nosso humano, demasiadamente humano que tem a tarefa de fazer alguma coisa com o que foi revelado, ou a revelação se perde.
A revelação é dada, ela é o dom.
Pois ouso dizer que a origem do dom é a dor”.
Do livro: A Voz e o Tempo- Reflexões para Jovens Terapeutas
Ateliê Editorial, 2008
A obra recebeu o Premio Jabuti de 2009 na categoria: Educação, Psicologia e Psicanálise.
“... então, devemos sempre nos perguntar se aquilo que inicialmente se manifesta como dor, ainda que muitas vezes negada e não nomeada, não poderá conter seu âmago uma matéria misteriosa e transformadora, que no entanto nenhuma psicologia define nem conceitua, como se fosse um território inaccessível à elaboração mental e ao entendimento.
Portanto, encaro a terapia como um trabalho capaz de tocar um cerne obscuro que nos apavora, e que até preferiríamos ignorar, que é o coração da agonia, porque lá, em seu mais íntimo, pulsa e vibra uma força de renascimento e restauração do que foi destruído e caiu nas trevas da sombra.
Algo portentoso: mas é difícil chegar nessa medula psíquica geradora de energias vitais, assim como os grandes físicos, dentre os quais Einstein, descobriram que no interior do átomo estavam aprisionadas energias descomunais. A fissão da dor e do átomo podem levar à bomba, ao suicídio e ao massacre – ou à energia nuclear.
A verdade é que mal se conhece a extensa dessa força criativa ou letal contida em estado potencial no átomo da dor.Fica assim evidente que a reflexão que vai e vem no pequeno espaço entre duas poltronas, ao longo do tempo, fundamentalmente gira em torno desse tema. Como chegar nesse caroço?....
"... queria ainda acrescentar que a alma doída adquire uma força, uma radicalidade surpreendente em sua maneira de se expressar e de entender as coisas. É como se, por sofrer, a alma se tornasse mais ousada e mais corajosa nos comentários que tem a fazer sobre esse mundo, suas desgraças, verdades e belezas.
A dor a torna mais eloqüente, mais penetrante, mais surpreendente, e esse seu modo de assim falar, podemos reconhecer em escritores, artistas, pensadores, inovadores de todos os tempos”.
“ A razão e o intelecto podem ancorar a expressão da alma; mas a origem desta expressão está nela mesma, e não nos primeiros.Essa força penetrante advém do fato de que só a alma que habitou o Hades consegue lançar luz sobre obscuridades que a luz da razão não ilumina. Sua luz é outra.
É como se a alma que sofreu adquirisse o poder de se iluminar a si mesma, para se revelar.
O que ela faz é apenas revelar-se; o resto é com a gente. Quer dizer: a alma somos nós.
Mas quando se revela, é o nosso ego, é a nossa consciência, é o nosso humano, demasiadamente humano que tem a tarefa de fazer alguma coisa com o que foi revelado, ou a revelação se perde.
A revelação é dada, ela é o dom.
Pois ouso dizer que a origem do dom é a dor”.
Do livro: A Voz e o Tempo- Reflexões para Jovens Terapeutas
Ateliê Editorial, 2008
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